quinta-feira, 2 de julho de 2009

A ASAE esteve no CHICO

Este texto é uma análise de dois ilustres cidadãos portugueses conhecidos de todos nós, sobre a actuação da ASAE...
RUBEN de CARVALHO
A ASAE esteve no Chico. Disse-lhe que tinha de comprar uma máquina de lavar para as chávenas e para os copos, mais um rol de coisas quanto aos lavadouros e às obras. E explicou-lhe que tinha de fazer um curso de formação. E deu-lhe um prazo. O Chico lá no fundo do Alentejo, olhou para a tasca e para a pequena mercearia. Há anos que os seus clientes são os reformados e as suas reformas e pensões: a "área de negócios", como diria o eng. Belmiro de Azevedo, limita-se assim ao fiado para resolver no fim do mês. Quando se resolve. O "Cash Flow", como diria o sr. Américo Amorim é muito reduzido. E cada vez pior. O Chico não tem dinheiro para a máquina de lavar, nem para as obras, nem para fazer cursos de formação. Não tem condições para investir, como diria o Dr. Ricardo Salgado. O Chico vai fechar e não sabe o que fazer à vida. Tem filhos para criar.Neste fim de semana(35anos exactos depois do 1ºde Maio de todas as esperanças), começou a desfazer-se do que tinha nas prateleiras. Nunca houve uma intoxicação alimentar no Chico, nem coisa que com isso se pareça. Agora para comprar um quilo de sal ou de açúcar é preciso ir à cidade. Ao supermercado. 20 kms para cada lado. E os velhotes vão deixar de poder ir ao Chico, à bica ou ao copito. E à sueca. O Chico rasgou todos os papeis do rol. Nem quer fazer contas, saber quanto lhe devem, as pessoas não conseguem pagar, que é que adianta? É lá no fundo do Alentejo, É no Portugal do governo Sócrates. Digo eu...
LUIS DELGADO
O problema, disse-me o Ruben à parte é que a história é verdadeira. O Chico fechou vergado às exigências da ASAE e de quem vive no limite da sobervivencia. E agora quem vai ser o Chico que ajudava, tantos a "fingir " que era possível viver acima da miséria? Do açúcar fiado, do leite emprestado. O problema, digo eu, é que há muitos Chicos por esse país fora. E não apenas no Alentejo profundo. Chicos que já não sobrevivem com uma ASAE implacável, um fisco incontrolável e um estado inviável. O Chico vive no Alentejo. Como poderia viver no Douro, no Minho ou em Olhão. os outros - os que o levaram a fechar as portas, a deixar de ajudar, a pensar no que fazer - estão no Dubai e pertencem à família real. São filhos, sobrinhos, tanto faz. Charutam enquanto o petróleo jorra. É certo que menos, é certo que com prazo, mas que importa? Por agora corre, dá dinheiro. Há uns tempos , em discurso directo, Manuel Ferreira Leite disse que a democracia deveria ser interrompida por seis meses. Enganou-se. O que ela queria dizer, pela certa, é que em momentos extraordinários, como os que o país vive, o bom senso(apenas) deveria ser a primeira das leis, a mais importante, a única a impor-se. É difícil ser sensato? Perceber a realidade? Viver por momentos na cabeça dos outros? Um dia destes, mais cedo do que tarde, a ASAE, ou as repartições de Finanças, ou outros mais, acordam com uma fila de Chicos a pedir açúcar fiado e leite emprestado...
Manel Zé
Eu sei que este texto está um pouco "politizado", mas é mera transcrição de duas personagens da nossa praça publica. No entanto não deixa de estar de acordo com a atitude mesquinha, prepotente e exagerada da policia das actividades económicas , principalmente numa zona de parcos recursos. Só é pena ter-me chegado um pouco atrasado, mas não podia deixar de transcrever.

2 comentários:

JMestre disse...

Brilhantes verdades!!!!!
Parabéns aos autores!!!!

Sabe-se á partida de que os causadores nunca irão ligar patavina a estes textos. "os chicos" deste nosso Portugal estão "quase" todos a ver fugir-lhe o modo de vida, e com isso, foge também o pouco pão da mesa de muitos, a quem "o chico" fazia de tábua de salvação. Para mim, foge-me a sensação estimulante que sentia, cada vez que avistava á chegada da aldeia, que tomo como a "minha terra"!... Por simples que pareça, tinha para mim muita importância, e com isto, também eu afinal à distância perdi com a abalada do "chico". Perdemos todos!...
Se calhar, é a factura da nossa "mea culpa"!

Cpts, JMestre.

Anónimo disse...

Pois é pena que as pessoas que "fecharam" o café do Chico não se importem com as dificuldades que ele agora vai ter para sobreviver. Pois era ali que se podia ir comprar as coisitas que faltavam a ultima hora, não era?E mesmo fora de horas. É pena já não termos um café para ir comprar um gelado para os miudos comerem enquanto brincam no parque.